quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Comporta


Quando chove é sempre assim: meu amor vai à janela.
Fechada.
Os carros tornam-se mais lentos e mais apressados, engraçados.
Engarrafados - como ela.
Tudo escorre, todos somem, fogem.
Dois tons de cinza se unem:
o do céu e o do inferno. Tão calmo!
Entre tanto cinza haverá espaço para sentir o cheiro de chuva?
As veias pulsam, correm, transbordam pelas valetas: o útil, o fútil, o lixo.
- Comporta-te que é dia de chuva!
O telefone não toca, a TV é muda, barulho de água fervendo aqui dentro.
As chaves na porta.
Ela mal me beija e diz:
- Toma um banho quente, amor. Você está ensopado.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Simples como o fogo

Às vezes eu queria ter em quem pensar. Aquele sentimento irracional, simples. Simples como o fogo: amo. Ponto.
Dos amores idealizados pela calma e pela cautela não sobraram marcas. Lembrança de ter passado em branco o tempo. Das arrebatadoras paixões sobraram motivos para rir: como eu fiz isso? Resta algo: o sentimento de ter feito aquilo que sentia. Entre o nada e o algo: renuncio o sentido. Deixo para a vida profissional. No amor, não. Quero a loucura da paixão em si, tudo em si.
Adoro ver o tempo desmentir as loucuras de um considerado louco do passado.


"Mas a chave do mundo é ser exatamente assim como ele: cruel como o mundo e tão simples"
Marina Lima/ Antônio Cícero