segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Amantes.


- Adeus, não posso ficar,
Ele deve me telefonar,
Pedir para eu voltar.
- Fique mais um pouco,
Eu que não sou louco,
Não quero lhe perder assim.
- Entenda nosso caso:
Toda história tem seu fim,
Já é tarde para mim.
- Por favor, tente voltar atrás.
E a vida prometida?
Amor eterno, prazer fulgás.
- A mentira esteve aqui,
Espiando nosso fervor,
Fervendo nosso pudor.
- Esse é o nosso final?
Uma atuação frágil
Em um palco marginal?




Dois atores em uma peça.
Haveria cena como essa:
Um instante e nada mais?
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Renato Gonçalves.
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(Mais uma tentativa poética metrificada).

domingo, 19 de agosto de 2007

Emaranhado urbano de linhas tortas.

Cruzamentos, sinais fechados eteceteraetal. Minha vida que parou ou foi somente o carro?



Não sei. Na verdade nem sei. Não sei quando o sinal verde surgirá, muito menos quando o amarelo. Cuidado com os tiros que vêm de lá.



Pensamentos fluem. Quando é que minha rua cruzará com a sua? Em qual esquina saberei o seu nome? Ah... Mas se perguntarem por mim diga que estou por aí, andando por aí, perdido por aí.



Abriu. Mais uma vez o sinal abriu. O carro do meu lado acelera, em vão:



- Ich liebe dich.



Multidões se unem. Resolvem atravessar com o sinal fechado. Sonhos diferentes se esbarram, se atraem, se unem.



Do meio da multidão uma senhora corre, espalhando a sete-ventos:



- La muerte és un horror!



Anda, anda! Tenho que passar.



O sinal amarelou. Não. Não. Não!



Fechou.



Aperto o botão e aguardo a linha.

(Telefone temporariamente fora de serviço.)

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

... segundo G.H.

Hoje encontrei um livro antigo, deixado de lado no canto da sala. Em sua capa havia um título já apagado pelo tempo. Abri-o com cuidado.
Folheei suas páginas amareladas, mofadas, rasgadas.
O começo me interessou:
" _ _ _ _ _ _ estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro."
Meus olhos agora procuravam alguma escapatória, talvez a porta - e o relógio que agora andava, enquanto eu enxugava uma lágrima fugidia.
Em poucas frases encontrei longos capítulos de minha vida.
Ferida aberta?
Não. É somente a paixão segundo G.H., segundo Clarice Lispector, segundo eu, segundo vós, segundo nós. Amém para todos nós.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Sobre a lógica. (E as pessoas)

Os números são certeiros: fato. Fato é fato, lógica é lógica!

Qual a dificuldade que há entre diferenciar um aldeído de um ácido carboxílico? É óbvio.

Quem não escreve razoavelmente bem? São só palavras.

Quem não se expressa através da arte? É comunicação.

Ah!

Quase me esqueci de um fato: há pessoas e pessoas.

Lógico.

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(Juro-te que há nexo!).
Pessoas são pessoas, oras!

terça-feira, 7 de agosto de 2007

R.I.P.

Agora eu sei. Sei a diferença entre o céu e a terra, entre o mar e o deserto, entre meus olhos e os seus. Mesmo estando longe, só pra você não me ver chorar, eu sei.
Estarei por aí espiando o que você fizer.
Estarei na sombra de sua porta, na fresta de sua alcova.
Eterna as saudades, mortas as lembranças.
Toda flor que se abre com a mais intensa cor na primavera, morre no outono.
Todo pássaro que voa, pousa.
Já vai longe o tempo...
Eu só peço que me dêem uma razão para não ser assim.















PS. Confesso: vivas lembranças.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Pra não dizer que não lhe falei das flores...

Pois é, meu amigo. Sessenta e dois anos se passaram e a imagem da rosa estúpida ainda gera o meu silêncio. Meu silêncio em luto do passado, do presente e do futuro. Rosa atômica. Será que 62 anos depois, a rosa da vida brote no jardim de almas em Hiroshima?

A lágrima derramada por tantos fez brotar a flor da comoção. Comoção em pensar que o futuro será uma flor despetalada no deserto. Comoção tenho eu em pensar que a gente morre. E tantos morreram sem saber que de fato o fim chegava. Fim da humanidade. Fim da dignidade humana.

Só peço uma coisa: não se esqueçam da rosa. Um minuto.








Meu silêncio vale mais que mil mentiras.

Uma eternidade.