quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Sinal

Fecha-se o sinal mais uma vez,
Eu não posso parar,
Devo continuar.

Mas o meu carro pára pra ver
O outro lado que também quer andar,
E assim espero o tempo
Tempo que não quer passar.


Como eu nunca percebi?
Sou só mais uma máquina.
E esse é só mais um sinal
Sinal teu na contra-mão,
Sinal teu na escuridão,
Sinal teu
Fechado.


(Agora sim, vejo que a imagem que eu tinha de você era uma imagem invertida)


Renato Gonçalves


PS. Esse eu musiquei, inclusive.

domingo, 28 de outubro de 2007

Luz Fria

(Um trecho de um dos capítulos de minha vida).
(Luz fria, não sei se realmente mereces, mas fostes importante para mim).

(...)
Vivo a pensar, “Ah, se eu te encontrasse...”, “Ah, se fosses tu...”. E se realmente eu te encontrasse na minha frente? Coração batendo, mãos tremendo. Talvez perguntaria onde compraras tua roupa, ou talvez não dissesse nada. O silêncio vale mais do que mil mentiras. Quero-o quando na verdade gostaria de gritar tudo o que aconteceu comigo sem ti, meu amor.
Esta noite aceitei sair com alguns amigos para ir ao bar. No bar, a espera de alguma bebida, eu te encontrei. Encontrei em olhos alheios o teu olhar. Encontrei nos lábios alheios os teus lábios. E encontrei em meu coração, teu coração. Ah, memória de minha vida: és morte em plena luz da noite. Luz calada, luz fria, luz artificial de postes urbanos.
Senti-me impuro. Impuro por te cobiçar. Não mais me pertences.
Confesso, amor. Confesso: quando cheguei em casa pus-me a te riscar em carvão, à luz da lua. E lembras aquele retrato que te dei? Guarde-o com carinho. Ainda guardo teu retrato em minha mente. Tornei minha mente um grande salão de mármore para nós dois. Nele, a todo instante, tu me pegas para bailar a doce suíte da vida.
Perdoa-me, luz fria de minha vida, se borrei o teu retrato a carvão. Mas o carvão, duro como ti, não resistiu às minhas lágrimas esta noite. Não pude evitar, era lua cheia quando eu te conheci, meu amor.


(...)

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

É.É!

Sente aqui, escute bem.
Veja minhas mãos: o que elas são agora sem teu corpo para tocar?
Não! Repare nos meus olhos. Para quê eles se só podem te mirar com outra pessoa?
E essa boca muda, sem teus lábios?
Ah. Devo estar ficando louco, falando sozinho.
Já não me escutas.
Já não me amas.
Já não me torturas.
Eu que me torturo com tuas lembranças.


(Eu sei que são pequenas coisas com as quais eu me chateio tanto, mas são as únicas coisas que realmente possuo).

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Vida? Vida.

Que mundo estranho esse onde vivemos: o mundo gira em vão enquanto eu tomo tempo. Nós tomamos tempo de vida. Não é uma questão de dúvidas sobre a existência. É uma necessidade de resposta para a angustiante pergunta que se chama vida.
Vida é uma questão por si só.
- Vida?
- Vida.
Afinal: o que é vida?
É a espera para a morte.
Mas só se morre quando se quer. Só quando não se percebe se morre.
(É, e morre-se também à luz do dia).


PS. Deve ser o Carnaval que chega.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Tarde chuvosa. (Eu chovo).

Hoje foi dia de chuva. Dias chuvosos geralmente são considerados tristes. As gotas quando tocam o meu rosto mais parecem lágrimas. Sim. Mas é quando chove que me lembro que todos nós somos humanos. A chuva atinge a todos, pobres ou ricos, talentosos ou não. Eu chovo de vez em quando também. E assim, de repente: raios e trovões.
E quanto ao barulho de chuva caindo no telhado? Se eu começar a notar o barulho de cada gota de incerta massa e incerta certeza, consigo ouvir a sinfonia desalinhada da vida. Sim, falo da vida. A vida é assim: incertos momentos que se não forem notados com muita atenção, tornam o momento agradável. Agradável para ler um bom livro, colocar café no bule, esperar um telefonema.
E como a chuva, noto também o olhar. (Alheio).
Tarde chuvosa tão boa.

24/10/2007

terça-feira, 23 de outubro de 2007

É, bem como eu vivo. (Identifique-se)

Com o leque ela pensa alguma coisa. Ela pensa o leque e com o leque se abana. E com o leque fecha de súbito o pensamento num estalido, vazia, sorridente, rídiga, ausente. O leque distraído e aberto no peito. "A vida é mesmo uma desgraça." Levanta-se subitamente, jogando longe seu leque. Atravessa a grande sala, e estupidamente fecha a cortina pesada. Pôe-se a escrever uma carta, uma longa carta. Quando finaliza, cuspe em seus pensamentos, deita e dorme.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Sobre a tolerância e as possíveis crises humanas.

Hoje, de repente, como num verdadeiro achado, minha tolerância para com os outros sobrou um pouco para mim também (por quanto tempo?). Devo, pois, perdoar-me por algo. Algo que realmente não sei bem. Mas algo sempre há para pedirmos perdão. Oh, que vida humana temos: tementes a essa força desconhecida. Força nunca medida, nunca pedida. Já existia muitos antes de mim. E de nós. E a minha tolerânica. Devo, pois, acreditar na força chamada destino? Nesse destino que encontro na palma de minha mão? É.

Um amigo meu me falou sobre crises. Cheguei à seguinte conclusão: crise não existe! Tudo o que é uma busca incansável de respostas é chamado de crise. Imaginem minha situação: vivo em constante crise? Não. Crise é viver sem se questionar. Viver ultrapassa qualquer entedimento, lógico, porém no estado humano, o de errante e ignorante, questionar-se é vital.
Tanto na pintura como na música e literatura, tantas vezes o que chamam de abstrato me parece apenas o figurativo de uma realidade mais delicada e mais difícil, menos visível a olho nu.
É o que eu chamo de ser mais do que humano.