sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Forma e conteúdo.


"Pies para qué los quiero, si tengo alas para volar?”*

Frida Kahlo


O homem já pisou na Lua. O homem já conhece e decifra o DNA. O homem já cria homem. É engraçado ver a Terra, assim, pequenininha, azul, e nós? Nem um pixel nos cabe na fotografia. E vendo assim até parece que deveriamos ser maiores que essa forma redonda... Mas não somos.

E o nosso sentimento? Será ele maior que nós? O sentimento pisa nas partes até então desconhecidas do homem. O sentimento conhece e decifra o homem. O sentimento cria o homem. Será que ele se acha maior que aquilo onde está contido?


(Eu acho que nesse caso sim).


*trad. Pés para quê os quero, se tenho asas para voar?

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

É, chegou a hora de abrir a caixinha de memórias.

Ou melhor dizendo: a pasta de memórias.
São textos meus, de minha autoria, escritos por mim, que eu mesmo escrevi lá pelo primeiro semestre de 2007.
Poucas pessoas leram, as que leram não gostaram. As que gostaram fingiram ter lido.
Nota-se uma certa insanidade, uma certa afobação com os implacáveis mistérios da vida. (Que vida? Se liga!.)
É, Clarice me influenciou bastante.
Seguem anexos.

PS. O manifesto (IV) acho que é o texto que mais me agradou.

I)
GRITO NA CALADA DA NOITE
ou
CALADA DA NOITE
ou
DIREITO AO GRITO
ou
SUSTO
ou
VERTIGEM
ou
PESADELO

- Eu sempre te amei, sempre!
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O telefone toca. Toca também o coração acelerado. Um susto, só um susto.Um pesadelo... Ou não. O telefone toca de verdade. Em um misto de sono e adrenalina, meus olhos procuram o telefone....No meio da noite uma voz trêmula e nervosa diz declarações mudas. Um grito na calada da noite.
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Foi encontrado morto, espatifado no chão. Seu rosto pálido demonstrava certa calma, contrastando com a expressão geral no momento. Do final da rua um vulto corria em direção ao corpo. Ofegante o olhou e soltou um grito de desepero que ecoou por toda a cidade.
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- Nunca me abandone, por favor, nunca...
- Jamais hei de fazer tal coisa, jamais!
- Porque você sabe que eu te amo, né?
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A dor é algo que corrói as estruturas feitas de ferro, destrói nossas peças e no final amacia a carne dura que temos que engolir, chamada vida.
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Pouca dor é bobagem.
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- Eu te amo, eu te amo...
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Tudo estava perdido, chegara tarde de mais. Conversaram sobre seus sentimentos e sobre o futuro, mas tudo parecia em vão. Já havia partido para outro plano....
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Ele não sabia gritar. (Ou até sabia, mas de forma fatal).

Renato Gonçalves 12/05/2007

II)
P l e n i t u d e
L e v e z a . . .
P u r e z a . . .

F l u t u a r , l e v e , s e m r u m o . . .
O l h a r o s c a m p o s v e r d e s . . .
O l h a r o s l a g o s ú n i c o s . . .
A p a l p a r a s e s t r e l a s . . .
D o r m i r n a m a c i e z d e u m a n u v e m . . .

E . . .


DESPENCAR.
ACORDAR. TRABALHAR. POLUIR.


(Data indefinida, mas foi em março, acho.)

III)

De repente, tudo foge de meu controle. (Novamente.)
Um segundo, uma palavra, uma ação, todos fugidios.
Tudo corre, foge, desaparece.
Idéias, planos, sonhos, futuro distante e o amanhã.
E eu continuo o mesmo, não desapareci.
Talvez nem deveria desaparecer, mas já que é assim...
Nada deveria sair de meu controle.
Somente eu deveria sair de meu controle.
Controle remoto. Controle de estoque. Estoque geral.
Idéias, planos, sonhos, futuro distante e o amanhã.
Eu no chão cru, de cimento, como era no princípio.
E onde estão aqueles com os quais eu estava acostumado?
Idéias, planos, desilusões, passado distante e o ontem.

IV)

MANIFESTO SENTIMENTAL E ANALÍTICO DOS FATOS

Tenho por princípios escrever. Não que seja algo automático, mas tem horas que parece ser. Penso, penso, mas não penso muito. Digo. Um fato, um ato: escrevo. E assim palavra por palavra, exponho meu modo, sem medo, sem pudor. Talvez esse seja o meu modo de ser eu mesmo, ou talvez ser aquele que eu gostaria de ser. Delicio a doce contradição de escrever.
Mas eu tenho medo de agir. Quem age, sofre as suas consequências. E quem escreve sofre as consequências de cair em abismos da inércia de gritar. Quando entro em inércia, o melhor é não resistir para não cair em um outro abismo mais profundo ainda, chamado arrependimento. A falta de inspiração é a falta de ondas no oceano particular de quem sente e vive.
A dor e o sofrimento, inspiração de muitos outros, para mim não possuem o mesmo efeito. Nos meus dias tristes, eu esboço alguns versos, algumas palavras azuis, mas a tristeza é uma senhora muito velha que guarda debaixo de sua cama caixas secretas que possuem os diferentes tipos de dor e de inspiração. Se ao menos eu conseguisse abri-las... Fato é que se não houvesse a dor, não existiria a felicidade. Iriamos cair na velha afirmação quando finalmente sofressemos: eu era feliz e não sabia. Sofrendo posso saber o que é a dor e sei o que é a felicidade. Assim aproveito melhor os momentos simples.
Por isso eu escrevo nos meus dias normais. Nos dias em que os dedos curiosos tocam a textura dos sentimentos, me fazendo escrever algumas sentimentalidades. Há ainda os dias cinzentos, em que acordo por acordar e respiro por respirar, escrevendo sem piedade tudo aquilo que ninguém nunca quis ouvir.
De uma coisa estou certo: enquanto você puder me escutar, eu continuarei a gritar. E cada vez gritarei mais alto. Gritarei alegrias, gritarei verdades, gritarei mentiras: escreverei.

Renato Gonçalves 10/05/2007



V) bônus (texto que nunca ninguém imaginou ler)

Títulos:
A tarefa mais difícil
O título é a essência do texto. Assim como a minha essência é algo difícil de se achar e definir, a essência de parte da minha essência também o é.

(essa surgiu, assim, apareceu, e eu anotei no cantinho daquele caderno antigo... lá em maio.)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Paredes e porta (para os olhos e o coração)

Ah, se as paredes falassem! Ainda bem que são mudas porque há o cimento. Mas, bem que hoje eu gostaria que elas falassem... Narrassem a minha história de vida dentro desse apartamento. O dia em que, quando criança, entrei correndo: casa nova! casa nova! Os tombos que tomei, as paredes que rabisquei (e ainda rabisquei dias atrás!). Os dias em que gritei, quebrei, chorei. Os dias em que feliz as olhava, assim, bem besta... Dias e dias de descanso. (Lembra-se quando era tudo azul? Depois mudamos para o verde, era menos monótomo.) Dias e dias em claro, noites de sentinela adormecendo minha irmã. A porta que de madrugada eu abria com cuidado. Ah, paredes... por que não narram o que o sol as dizia todas as manhãs? Fico a imaginar: o que elas farão quando eu partir por aquela porta e nunca mais voltar?

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Planos.

Planos: para que os ter? Planos existem para serem almejados. Planos existem para serem conquistados. E quando os conquistamos, logo mais inventamos novos planos. Assim juntamos peça por peça. Peça por peça. Encaixe com encaixe. Perfeitos. Se não ocorre o encaixe perfeito, tentamos outra peça. Tentamos, tentamos. E finalmente: perfeito encaixe! (Surgindo mais opções de peças para serem encaixadas). (Perfeitas repetições da vida). E conseguimos alcançar mais um plano. Quando esse quebra-cabeça ficar completo, ai de nós: não o veremos. (Mas espero que tenhamos a sensação de termos feito um bom trabalho).

PS. Planos na cabeça. (Milhões de coisas para pensar - fone de ouvido).